O Boi Garantido acaba de escrever um capítulo histórico no Festival de Parintins. Nesta quinta-feira (27), o bumbá vermelho e branco apresentou a toada "Artesãs Indígenas", a primeira do festival a ter lideranças, artesãs e uma anciã do povo Sateré-Mawé como vozes principais. A composição, assinada por Geandro Matos, Ulisses Rodrigues, José Carlos e Wanderson Rodrigues, celebra os saberes tradicionais de mulheres indígenas de diferentes etnias, como Sateré-Mawé, Baniwa, Hixkaryana e Yanomami.
O lançamento consolida o sucesso do álbum "Boi do Povo, Boi do Povão", que em apenas quatro dias ultrapassou 100 mil visualizações no YouTube. Mas mais do que números, a nova toada simboliza um marco: pela primeira vez, mulheres indígenas não apenas participam da gravação, mas também integram o processo criativo do espetáculo.
O presente e o futuro ancestral
Izabel Munduruku, membro da Comissão de Artes do Boi Garantido, não esconde o orgulho ao falar do projeto. "O álbum de 2025 é muito especial, elaborado e pensado com muito cuidado para o Boi do Povo e para toda a galera vermelha e branca. Estamos trazendo para a toada o presente e o futuro ancestral, com as vozes de Yará Sateré-Mawé e Moy Sateré-Mawé, mulheres da região de Parintins, torcedoras do Boi Garantido, que carregam a força ancestral do artesanato", afirmou.
A presença de Moy Sateré-Mawé, liderança do movimento de mulheres indígenas e reconhecida artesã, reforça a importância da toada como um ato de resistência. "O artesanato vem de tempos históricos e é passado de geração em geração. Esse espaço também fortalece nosso trabalho. Durante o Festival de Parintins, conseguimos vender mais e garantir o sustento de nossas famílias. Para nós, mulheres, essa é uma fonte de renda fundamental, que nos ajuda a cuidar de nossas crianças e a manter viva a nossa cultura", disse.
Moy ainda destacou o significado político da homenagem. "Isso nos permite dizer que estamos aqui, somos artesãs e queremos que a natureza vença, que a respeitem. Tudo o que tecemos, criamos e fabricamos vem diretamente da natureza, que nos proporciona os materiais para nossa arte e nossa cultura."
A voz da nova geração
Entre as participantes, a pequena Yará Sateré-Mawé, de apenas 9 anos, roubou a cena ao expressar sua emoção. "Como torcedora, é uma sensação única. Não há preço que pague meu amor pelo Garantido, eu o amo de paixão", declarou, com a espontaneidade que só uma criança pode ter.
Com essa iniciativa, o Boi Garantido não apenas honra sua tradição de resistência, mas também reforça o Festival de Parintins como palco de lutas sociais e celebração da diversidade amazônica. Enquanto o álbum segue batendo recordes nas redes sociais, uma coisa fica clara: o "Boi do Povão" está, mais do que nunca, falando a língua do seu povo.